Luxações – o que você precisa saber

O joelho humano é uma articulação complexa, formada por algumas partes móveis que precisam se encaixar com precisão milimétrica durante todo o movimento para garantir seu correto funcionamento: no joelho, ocorre o “encontro” do fêmur (o osso da coxa) com a tíbia (o osso da perna) e um terceiro osso, que fica na parte da frente do joelho: a patela. Temos também a fíbula, um fino osso que fica na lateral da perna e “encontra-se” com a tíbia. Quando essa integridade é interrompida, temos as luxações.

Como em toda articulação, os ossos são revestidos por uma camada de tecido macio, a cartilagem, que evita que os ossos se “toquem” uns nos outros durante o movimento. No joelho, existem também os meniscos, que são pequenas almofadas de fibrocartilagem que agem como amortecedores de impacto para o joelho. Por fim, os ligamentos funcionam como cordas elásticas que mantém os ossos, os meniscos e as cartilagens estabilizados em seus devidos lugares, protegendo contra movimentos lesivos, como rotações exageradas e a hiperextensão brusca. 

Por ser uma região complexa, responsável por absorver uma grande quantidade de impacto – a cada passo que damos ao andar, nossos joelhos absorvem um impacto cerca de 1.5x nosso próprio peso (ao correr, são 4x isso) – o joelho é particularmente vulnerável a lesões e acidentes. Além disso, se um dos componentes do joelho começa a apresentar mal funcionamento, o desgaste sofrido pelas outras partes será maior, aumentando os riscos de problemas generalizados. Uma das lesões que podem acometer esta articulação é a luxação. 

A luxação acontece quando a posição dos ossos é alterada, e um dos ossos sai do lugar, causando a perda de contato entre a tíbia e o fêmur (luxação do joelho), ou entre a patela e o fêmur (luxação da patela). Quando isso ocorre, os ossos ficam em um posição bem diferente do normal, o que causa estiramento ou ruptura dos ligamentos, e pode causar lesões em nervos, vasos sanguíneos e outras estruturas. Por conta disso, as luxações do joelho são lesões potencialmente perigosas, com capacidade para causar bastante dano à integridade da articulação.

As luxações comumente acontecem em decorrência de traumas e impactos de alta energia, como quedas, colisões esportivas e acidentes. 

Um dos sintomas presentes em uma luxação é o som de estalo, que acontece por conta do “desencaixe” dos ossos. Alguns pacientes podem chegar ao pronto socorro com o joelho fora do lugar. Em outros casos, no entanto, o joelho volta “sozinho” para o lugar, podendo dificultar o diagnóstico da luxação por um médico pouco experiente.  Se você acha que pode ter tido uma luxação, consulte o seu médico imediatamente. Você pode se consultar com o Dr. João Paulo aqui.

Devido a extensão de danos que uma luxação pode causar, é de extrema importância que, assim que houver um diagnóstico positivo, o paciente passe por uma bateria de exames para verificar se há outras lesões. Entre estes exames, podemos considerar:

Conferir o pulso dos vasos no membro inferior lesionado: são verificados os pulsos tibial posterior e dorsal do pé. Pulsos alterados ao podem indicar uma lesão em um vaso sanguíneo na região do joelho.

Verificar a pressão arterial: o índice tornozelo-braquial é um teste que compara a pressão arterial do braço com a pressão arterial medial do tornozelo. Uma pressão arterial baixa no tornozelo pode indicar fluxo sanguíneo insuficiente para as extremidades inferiores devido à lesão vascular. 

Verificar seu sentido de toque ou sensação: o médico irá avaliar se a perna lesionada consegue sentir o toque e como isso se compara com a perna não lesionada. Alteração na sensibilidade é um sinal de lesão neurológica na região do joelho que sofreu luxação.

Conferir a condução nervosa: testes como eletromiografia ou teste de velocidade de condução nervosa são úteis para medir a função dos nervos na perna e joelho. 

O uso de exames de imagem, como raios-x e ressonância magnética, podem ajudar seu médico a diagnosticar qualquer dano que tenha ocorrido aos ossos, ligamentos, tendões e cartilagem. Com estes exames, é possível saber se há outras regiões da perna que foram afetadas pela luxação e, se houver, agir de maneira efetiva e tratar adequadamente o paciente.

Como é o tratamento para Luxações?

Se uma lesão arterial for encontrada, o paciente imediatamente será levado para cirurgia. Reparar os vasos lesionados é um procedimento de extrema urgência, para restaurar e manter o fluxo sanguíneo na perna. 

Após a primeira parte do tratamento (avaliação vascular e neurológica), deve-se avaliar se todos os ossos estão na posição correta (patela e tíbia encaixados no fêmur). Se não estiver, será preciso arrumar isso, e o processo de “devolver” a patela ou a tíbia ao seu lugar é chamado de Redução. Durante a redução, pode ser necessário o uso de sedativos para reduzir a dor. Após a redução, e com os ossos em seu devido lugar,   o paciente será imobilizado e deverá ser encaminhado para um médico especialista em avaliar lesões do joelho. 

O médico deverá avaliar outras lesões que ocorreram durante a luxação e que não foram diagnosticadas no atendimento de urgência. 

Qual a perspectiva para pessoas que passaram por uma luxação?

A resposta para esta pergunta depende e é muito particular para cada paciente e para cada caso. Em geral, o prognóstico depende de cinco fatores:

• Como a lesão ocorreu;
• A extensão do dano;
• Se houve ou não danos à vasos sanguíneos ou nervos;
• O tratamento foi rápido e efetivo;
• Estado de saúde prévio do indivíduo e seu nível de comprometimento com o plano de reabilitação.

Como mencionado anteriormente, é vital receber o diagnóstico e tratamentos rapidamente, já que outras síndromes e complicações podem surgir, como a Síndrome Compartimental ou Trombose Venosa Profunda.  Se o dano aos vasos sanguíneos for detectado rapidamente, as perspectivas do paciente serão boas. Infelizmente, casos de lesão nervosa costumam ser mais complexos para tratar. A reabilitação geralmente leva entre nove e doze meses.

As luxações são condições médicas sérias e que devem ser tratadas com a devida atenção. O paciente que apresentou um deslocamento no seu joelho após um trauma, deve ser levado imediatamente ao atendimento médico, ainda que o seu joelho tenha “voltado para o lugar” sozinho. Os prognósticos para uma luxação são melhores quando o tratamento é iniciado cedo e a contenção de danos, precisa. 

Referencias

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Boyce RH, et al. (2015). Acute management of traumatic knee dislocations for the generalist. DOI: 10.5435/JAAOS-D-14-00349

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